quinta-feira, 2 de agosto de 2012

MATERIAL REFERENTE A TEMÁTICA DE AGOSTO III

Leão do Norte


Lenine e Paulo César Pinheiro

Sou o coração do folclore nordestino
Sou Mateus e Bastião do boi bumbá
Sou um boneco de mestre Vitalino
Dançando uma ciranda em Itamaracá
Sou um verso de Carlos Pena Filho
Num frevo de Capiba.
Ao som da Orquestra Armorial
Sou Capibaribe
Num livro de João Cabral
Sou mamulengo de São Bento do Una
Vindo num baque solto de um maracatu
Eu sou um auto de Ariano Suassuna.
No meio da feira de Caruaru
Sou Frei Caneca no pastoril do Faceta
Levando a Flor Da Lira
Pra Nova Jerusalém
Sou Luís Gonzaga
E eu sou do mangue também
E vou dando cheiro em meu bem
Eu sou mameluco
Sou de Casa Forte
Sou de Pernambuco
Sou Leão do Norte
Sou Macambira de Joaquim Cardozo
Banda de pife no meio do canavial
Na noite dos tambores silenciosos
Sou a calunga revelando o carnaval
Sou a folia que desce lá de Olinda
O Homem da Meia Noite
Eu sou puxando esse cordão
Sou jangadeiro
Na festa de Jaboatão
Eu sou mameluco


 


 

Entenda a letra da música Leão do Norte

Sou o coração do folclore nordestino – O primeiro verso da letra de Paulo César Pinheiro já anuncia que a música cantará as manifestações culturais mais autênticas que pulsam no coração da região, onde nasceu o compositor Lenine.

Eu sou Mateus e Bastião do Boi Bumbá –Conhecido também como bumba-meu-boi, este folguedo foi considerado pelo teatrólogo Hemilio Borba Filho como mais puro dos espetáculos populares nordestinos. É um auto ou drama pastoril que tem como mote a morte e a ressurreição do boi, figura feita de pano, com armação de madeira, carregada por uma ou duas pessoas. Presepeiro, Mateus namora com uma negra Catirina.

Bastião é o filho do capitão boca-mole, mestre do folguedo.

Sou um boneco de mestre Vitalino – Vitalino Pereira dos Santos (10/07/1909-20/01/63) é considerado o maior ceramista, filho de um agricultor e de uma artesã de peças utilitárias de barro, desde menino começou a fazer figuras de barro representando a cultura nordestina e seus folguedos. Influenciou toda a comunidade do Alto do Moura, onde morava, transformando Caruaru no maior centro de arte figurativa da América, segundo a Unesco.

Dançando uma ciranda em Itamaracá – Dança de roda praieira, a ciranda tem suas raízes portuguesas, mas desenvolveu-se, segundo alguns estudiosos, na região de Goiana e teve o seu auge de popularidade nos anos 70. Na Ilha de Itamaracá mora uma das cirandeiras mais famosas, a Lia, citada em versos de canções.

Eu sou um verso de Carlos Pena Filho / Num frevo de Capiba / Ao som da Orquestra Armorial – Pena Filho era conhecido como "O Poeta Azul".

Nascido em 1929 e morto em 1960, num acidente automobilístico, deixou entre suas obras mais importantes, O Livro Geral e Memórias do Boi Serapião. A Orquestra Armorial de Câmara foi fundada no início dos anos 60, pelo maestro Cussy de Almeida, sob a inspiração do Movimento Armorial, idealizado e liderado pelo romancista, dramaturgo e ex-secretário estadual de Cultura, Ariano Suassuna. Propunha-se a fazer uma arte brasileira erudita de raízes populares. Na música, valoriza o som áspero de instrumentos como a rabeca, a viola sertaneja e o berimbau, em conjunção com as harmonias ibéricas.

Sou Capibaribe / Num Livro de João Cabral – O pernambucano João Cabral de Melo Neto dedicou vários poemas e mesmo livros ao rio que corta a Zona da Mata e desemboca no Atlântico, serpenteando o Recife. Entre os livros que tratam do Capibaribe estão O Cão Sem Plumas, O Rio ou A Relação da Viagem que faz o Capibaribe do Recife, Morte e vida Severina.

Sou mamulengo de São Bento do Una / Vindo num baque solto de Maracatu – Mamulengo é o teatro dos bonecos ou de títeres, que começou com caráter religioso. Profanou-se. Acompanha-se de uma pequena orquestra. Alguns grupos utilizam personagens do bumba-meu-boi, como o Mateus, o Bastião e a Catirina. O enredo é jocoso e picaresco, mas os desfechos normalmente são moralizantes. Em Olinda, há um Museu de Mamulengo, no Espaço Tiridá, do grupo Só Riso. São Bento do Una é a cidade natal do cantor Alceu Valença. O maracatu é uma das maiores expressões culturais de Pernambuco e está dividido em dois grupos: O Maracatu de Baque Virado ou Nação, é um cortejo afrobrasileiro de descendência nagô e evoca a coroação do Rei do Congo.

Suas figuras principais são o rei, a rainha, toda a sua corte, com embaixadores, ministro e demais figuras; as baianas, as damas-de-passo, lanceiros e batuqueiros. O Maracatu de Baque Solto ou Rural é uma espécie de fusão de vários folguedos, surgido na Zona da Mata pernambucana. Sem reis nem rainhas, sua figura central são os caboclos de lança que usam cabeleira de papel celofone, cobrindo o chapéu de palha, rosto pintado, camisa e calça de chitão e carregam o surrão, armadura de madeira onde são presos os chocalhos. A dança do baque solto é em círculos e acelerada, num ritmo rápido ao som dos chocalhos.

Eu sou um auto de Ariano Suassuna / No meio da Feira de Caruaru – O auto é a forma teatral originária na Comédia dell´Arte medieval. Suassuna consagrou-se internacionalmente com a peça o Auto da Compadecida, escrita em 1955.

Neste texto, destacam-se personagens como o esperto e traquino João Grilo e a presença de um Cristo Negro. A feira de Caruaru tornou-se a mais famosa do Nordeste, pela sua variedade de ofertas, informalidade e a grande quantidade de artigos de artesanato popular à venda, entre os quais os bonecos de barro de Vitalino e seus herdeiros.

Sou Frei Caneca no Pastoril do Faceta / Levando a Flor da Lira para Nova Jerusalém – Sacerdote, jornalista e político, frei Joaquim do Amor Divino Rabelo, Caneca (1779-1825) foi um dos revolucionários de 1817 e um dos mártires da Confederação do Equador. Morreu fuzilado em frente ao Forte de Cinco Pontas.

O pastoril e um auto de Natal de origem religiosa, mas também profanado com o passar do tempo. Tem dois cordões rivais, formados por mulheres: o azul e o encarnado. A Diana ou Borboleta é a mediadora. Elas cantam, dançam e se desafiam. O velho é quem comanda o pastoril, com suas anedotas, pilhérias com o público e suas canções de duplo sentido. Faceta foi um dos seus maiores mestres. O bloco misto Flor da Lira é uma das antigas agremiações carnavalesca de Pernambuco. Foi fundado em 1920 e desfila até hoje. Nova Jerusalém, o teatro monumental ao ar livre de Fazenda Nova, Agreste do Estado, onde é realizada a Paixão de Cristo, durante a Semana Santa.

Sou Luiz Gonzaga / E eu sou do Mangue também – O sanfoneiro Luiz Gonzaga (*13/12/1912 + 02/08/1989), o Rei do Baião, natural de Exu, é o maior nome da música popular nordestina. Autor de clássicos como Asa Branca, Assum Preto, O Xote das Meninas, O Cheiro da Carolina, entre outros.

Eu sou o Mameluco / Soude Casa Forte / Sou de Pernambuco / Sou Leão do Norte – Lenine faz alusão a sua descendência mameluca, ou seja, vinda do cruzamento de índios com brancos. Casa Forte é um dos bairros mais tradicionais do Recife, onde ficava o engenho homônimo de Ana Paes, que ajudou na campanha da expulsão holandesa. Pernambuco é conhecido como Leão do Norte por sua história de lutas libertárias, como a Batalha dos Guararapes, as revoluções dos Mascates, Praieira e de 1817, além da Confederação do Equador, e mais, recentemente, na redemocratização do país. A origem vem do brasão das armas do donatário Duarte Coelho Pereira, no século XVI, no qual figurava em sua heráldica a estampa altiva de um leão.

Sou Macambira de Joaquim Cardozo / Banda Pife no Meio do Carnaval – Refere-se à peça Coronel de Macambira (1963), do poeta e engenheiro pernambucano Joaquim Cardozo (26/08/1987-04/11/78), responsável pelo cálculo estrutural da Pampulha (MG) e de Brasília.

É um auto baseado no bumba-meu-boi e o capitão, mestre do cavalo-marinho, foi inspirado no chefe do bando de cangaceiros do Morro, na Paraíba, Chico Fulô, que havia trabalhado para ele, quando demarcava terras devolutas da União em território dos cablocos descendentes dos aimorés, onde havia canavial, nos idos de 40. Banda de pife é um conjunto musical tradicional, formado por pife, pífano ou pífaro, espécie de flautim de madeira com som agudo e estridente e ainda por zabumba, triângulos e às vezes sanfona ou pandeiro. Toca geralmente forró. Um dos grupos mais conhecidos é a Banda de Pífanos de Caruaru, de Biu do Pife.

Na noite dos tambores silenciosos/ sou Calunga revelando o carnaval – Um dos mais solenes e belos momentos do carnaval pernambucano, a Noite dos Tambores Silenciosos acontece sempre na segunda-feira, em frente à Igreja do Pátio do Terço, no bairro de São José. A partir das 23 horas, reúnem-se os maracatus de tradição de baque virado ou nação, que reverenciam Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, a quem são tiradas as loas. A calunga é a boneca de pano, madeira ou plásticos vestida de baiana, que encarna a divindade dos orixás, recebendo em sua cabeça os axés e a veneração da corte e seus vassalos.

Sou a folia que desce lá de Olinda / O homem da Meia-Noite / Eu sou puxando este cordão – Quem é folião sabe o que é subir e descer as ladeiras de Olinda, ao som do frevo, maracatu, afoxé e até mesmo o samba, seguindo as mais variadas agremiações que confluem para a cidade. O Homem da Meia Noite é o mais antigo e famoso boneco gigante que desfila na Marim dos Caetés. Foi fundado em 1932. Quando sai, na meia-noite de Sábado, o boneco puxa o cordão formado pela multidão.

Sou Jangadeiro / Na festa de Jaboatão – Os versos finais da letra de Leão do Norte são uma alusão à famosa Festa da Pitombeira, realizada em abril, em homenagem à padroeira Nossa Senhora dos Prazeres, e aos jangadeiros de Piedade, Candeias e Barra de Jangada, seus devotos originais.


 

 

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